Estamos a assistir a uma transformação silenciosa na reprodução de cores nos rótulos industriais. De um lado, códigos Pantone, um sistema que dominou a indústria durante meio século. Do outro, emergem os espectrofotómetros e sistemas de medição científica que prometem uma precisão absoluta. Mas qual destas abordagens vai moldar verdadeiramente o futuro da nossa indústria?
A resposta pode ser uma surpresa para si: não se trata de uma batalha onde há apenas um vencedor dominante.
Compreender as Duas Filosofias
Para perceber onde caminha a indústria, precisamos primeiro de compreender as filosofias fundamentais por trás de cada abordagem. Os códigos Pantone baseiam-se numa premissa elegante e na sua simplicidade: criar uma linguagem visual universal onde cada cor tem um nome e um número. É como ter um dicionário cromático onde "Pantone 186 C" significa sempre "aquele vermelho específico".
Os espectrofotómetros, por sua vez, representam uma abordagem científica. Em vez de dar um nome às cores, elas são medidas matematicamente. Cada cor torna-se um conjunto de coordenadas precisas no espaço cromático, como se fosse um endereço GPS para o mundo das cores. Esta diferença filosófica - nome versus medida - define uma trajetória tecnológica completamente distinta.
Pense nesta analogia: durante séculos, os navegadores orientavam-se pelas estrelas e marcos visuais. Funcionava bem, mas dependia da experiência humana e das condições ambientais. O GPS revolucionou a navegação não porque as estrelas deixaram de existir, mas porque ofereceu uma precisão objetiva e universal. Estamos a viver uma transformação semelhante na gestão cromática.
As Limitações Crescentes do Sistema Tradicional
O sistema Pantone foi revolucionário quando surgiu, mas enfrenta atualmente limitações que se tornam mais evidentes à medida que as exigências da industria evoluem. A primeira limitação reside na sua natureza fundamentalmente subjetiva. Quando especificamos Pantone 485 C, estamos essencialmente a dizer "reproduza algo visualmente similar a esta amostra". Esta aproximação, aceitável durante décadas, torna-se problemática quando é exigida consistência absoluta.
Considere um exemplo prático: uma empresa farmacêutica que produz em três países diferentes. Cada local utiliza fornecedores de tinta locais , equipamentos de marcas distintas e opera sob condições ambientais variáveis. Todos reproduzem "corretamente" o mesmo código Pantone, mas quando os produtos chegam ao mercado global, as diferenças cromáticas são visíveis. O sistema Pantone não foi concebido para esta realidade globalizada.
A segunda limitação emerge da automatização crescente do controlo de qualidade. Sistemas de visão artificial conseguem detetar variações cromáticas impercetíveis ao olho humano. Uma variação de 2-3 unidades Delta E, perfeitamente aceitável visualmente, pode causar rejeições automáticas em linhas de produção modernas. Os códigos Pantone, sendo referências visuais, não oferecem a precisão matemática necessária para estes sistemas.
A Ascensão da Medição Científica
Os espectrofotómetros não são uma tecnologia nova - existem há décadas na indústria automóvel, têxtil e cosmética. O que mudou foi a sua acessibilidade e integração com sistemas de produção modernos. Hoje, um espectrofotómetro industrial custa uma fracção do que custava há dez anos e oferece uma precisão muito superior.
Esta tecnologia é baseada num princípio simples mas poderoso: em vez de comparar as cores visualmente, mede-as matematicamente. Cada cor torna-se um conjunto específico de coordenadas no espaço cromático CIELab, permitindo uma reprodução idêntica independentemente do equipamento, fornecedor ou localização geográfica.
A vantagem não está apenas na precisão, mas na objetividade. Enquanto duas pessoas podem interpretar de forma diferente um código Pantone dependendo das condições de iluminação, idade, ou mesmo diferenças na perceção cromática individual, um espectrofotómetro produz sempre a mesma leitura para a mesma cor. Esta objectividade torna-se crucial à medida que a indústria se automatiza.
Sectores que Já Fizeram a Transição
Alguns sectores industriais já abraçaram completamente a medição espectrofotométrica, o que nos dá pistas sobre o futuro mais amplo da reprodução cromática. A indústria automóvel foi pioneira, onde a consistência cromática entre componentes produzidos por diferentes fornecedores é crítica para a qualidade percebida do produto final.
Na indústria farmacêutica, a pressão regulamentar impulsionou a adopção de sistemas de medição objetiva. Autoridades como a FDA e EMA exigem cada vez mais rastreabilidade e consistência nos processos produtivos, incluindo aspetos visuais como a identificação cromática de medicamentos.
O sector cosmético seguiu uma trajetória interessante: manteve os códigos Pantone para comunicação inicial entre equipas criativas, mas implementou medição espectrofotométrica para produção e controlo de qualidade. Esta abordagem híbrida pode indicar o caminho para outros sectores.
Híbrido: Melhor dos Dois Mundos
A realidade emergente sugere que o futuro não pertence exclusivamente a nenhuma das tecnologias, mas à sua integração inteligente. Os códigos Pantone mantêm vantagens significativas na comunicação inicial entre designers, clientes e equipas comerciais. São intuitivos, amplamente conhecidos e eficazes para estabelecer intenções cromáticas.
Os espectrofotómetros destacam-se na fase produtiva, onde a precisão objetiva se torna fundamental. Esta combinação cria um fluxo de trabalho onde os códigos Pantone estabelecem as especificações iniciais, que são depois convertidas em coordenadas LAB precisas para produção e controlo de qualidade.
Na Codimarc, observamos esta evolução nos nossos próprios processos. Começamos frequentemente com especificações Pantone fornecidas pelos clientes, mas convertemo-las imediatamente em coordenadas LAB para produção. Esta abordagem mantém a familiaridade do sistema tradicional enquanto garante a precisão da tecnologia moderna.
Factores que Aceleram a Mudança
Três tendências convergentes aceleram a adopção de sistemas de medição científica na reprodução cromática. A primeira é a globalização crescente da produção, que exige consistência cromática independentemente da localização geográfica. Empresas multinacionais não podem aceitar variações cromáticas significativas entre sites produtivos diferentes.
A segunda tendência é a automatização do controlo de qualidade. Sistemas de visão artificial tornam-se cada vez mais sofisticados e acessíveis, mas requerem especificações matemáticas precisas para funcionar efetivamente. Estes sistemas não interpretam códigos Pantone - processam coordenadas numéricas.
A terceira força motriz é a pressão regulamentar crescente, particularmente em sectores altamente regulados como farmacêutico, alimentar e dispositivos médicos. Autoridades regulamentares valorizam cada vez mais a rastreabilidade objetiva e a capacidade de demonstrar controlo preciso sobre todos os aspectos produtivos.
Implicações Práticas para a Sua Operação
Esta transição tecnológica cria não só oportunidades mas também desafios às empresas que dependem de uma reprodução cromática precisa. As oportunidades incluem maior precisão, flexibilidade de fornecedores, conformidade regulamentar simplificada e integração com sistemas automatizados de controlo de qualidade.
Os desafios envolvem principalmente o investimento inicial em equipamento e formação, a necessidade de desenvolver novas competências técnicas internas, e a gestão da transição sem disrupção das operações existentes.
Empresas que antecipam esta transição posicionam-se com vantagem para:
- Servir clientes mais exigentes que exigem precisão absoluta
- Expandir para mercados regulados onde a medição objetiva é mandatória
- Integrar-se com cadeias de fornecimento cada vez mais automatizadas
- Oferecer garantias de qualidade mais robustas que a concorrência
Preparado para o Futuro?
A questão não é se esta transformação vai acontecer, mas como a sua organização se irá posicionar durante a transição. Empresas proativas começam por identificar as suas aplicações mais críticas onde a precisão cromática tem impacto direto na qualidade percebida ou na conformidade regulamentar.
O próximo passo envolve experimentação controlada com tecnologia espectrofotométrica nestas aplicações críticas. Esta abordagem permite desenvolver competências internas e validar benefícios sem comprometer as operações existentes.
Enquanto isso, é essencial desenvolver competências internas na interpretação de dados cromáticos científicos. Isto vai além da simples utilização do equipamento - exige uma compreensão dos princípios subjacentes e uma capacidade de integração com os processos existentes.
A Visão de Longo Prazo
Se imaginarmos uma década à frente, prevemos um ecossistema cromático onde coexistem diferentes tecnologias que se complementam conforme a aplicação específica. Projetos criativos e comunicação inicial vão continuar a beneficiar da simplicidade dos códigos Pantone. Produção industrial e controlo de qualidade irão migrar progressivamente para sistemas de medição científica.
Esta evolução não representa uma revolução disruptiva, mas uma transformação gradual onde as empresas se adaptam progressivamente às novas realidades tecnológicas e de mercado. Organizações que iniciem hoje esta jornada vão-se posicionar como líderes na indústria de amanhã.
O investimento em capacidades de medição cromática científica não é apenas uma melhoria técnica - é uma decisão estratégica que define a competitividade futura. À medida que os clientes se tornam mais exigentes e os processos mais automatizados, a capacidade de garantir precisão cromática objetiva se torna um diferenciador competitivo crucial.
Quer perceber como esta evolução tecnológica se aplica especificamente ao seu contexto? Oferecemos demonstrações práticas onde pode experimentar de facto as diferenças entre especificação tradicional e medição científica, aplicadas às suas cores e materiais específicos. Contacte-nos para uma sessão de avaliação tecnológica ou solicite informações sobre como preparar a sua operação para o futuro da reprodução cromática.
A Codimarc acompanha de perto a evolução tecnológica da reprodução cromática, oferecendo aos aos seus clientes acesso às tecnologias mais avançadas integradas com a experiência prática necessária para uma implementação eficaz em ambiente industrial.
Autor: Ricardo Costa

O Ricardo é especialista em impressão industrial com vasta experiência em flexografia, offset e impressão digital na criação de soluções de etiquetagem para indústrias regulamentadas, especialmente o setor farmacêutico. Como Designer Gráfico e Técnico de Pré-Impressão certificado, partilha no blog da Codimarc insights práticos e soluções testadas no terreno, transformando complexidade técnica em conhecimento aplicável que dá aos profissionais a capacidade de implementar soluções de etiquetagem mais eficazes, seguras e de acordo com rigorosos padrões regulamentares.